O Yôga é uma filosofia de vida, uma filosofia prática, baseada exclusivamente em técnicas (De Rose, 1986). O Yôga ensina, por exemplo, como respirar melhor, como relaxar, como concentrar-se, como trabalhar músculos, articulações, nervos, glândulas endócrinas, órgãos internos, etc., através de exercícios físicos belíssimos e fortes, mas que respeitam o ritmo biológico do praticante (De Rose, 1995a), aperfeiçoando o corpo e as áreas mais profundas do ser humano, proporcionando saúde e vitalidade, beleza física e interior. Mas, tudo isso tem um objectivo maior. Aumentar a vitalidade e a expectativa de vida são apenas instrumentos a fim de conseguir condições biológicas e tempo hábil para atingir um nível evolutivo bem avançado, paranormalidades e estados de hiperconsciência. Os benefícios sobre a flexibilidade, a musculatura, a redução do stress e a eclosão da saúde generalizada constituem apenas os efeitos colaterais (De Rose, 1995b).
Portanto, o Yôga é também uma psicologia das profundidades, resultado de séculos de busca interior. O yôgin (praticante de Yôga) pretende não só conhecer e dirigir a sua mente e sua psique, como também alcançar o seu subconsciente e principalmente o inconsciente. Todavia, não se pode confundir este inconsciente com o inconsciente a que se faz referência na psicologia ocidental (Psicanálise). Ele é pessoal e transpessoal e o yôgin aprende a deixar-se guiar pelos seus sábios ditados (Calle, 1985).
O criador mitológico do Yôga é Shiva (o “benfeitor”; o “tranquilo”; o “auspicioso”; o “benigno”; o “roxo”; etc.), que terá vivido entre o povo Drávida, que habitava a Índia e Paquistão (hoje conhecida por civilização do Vale do Indo), há cerca de cinco mil anos (Daniélou, 1979; De Rose 1983, 1999; Henriques, 1990; Van Lysebeth, 1990; Zimmer, 1997). Tendo florescido durante aproximadamente um milhar de anos, desde cerca de 2700 a.C., esta antiquíssima civilização da Índia esteve enterrada sob areia e terra até ver a luz do dia na segunda década do século XX, na sequência de escavações levadas a cabo no vale do rio Indo pela Inspecção Arqueológica da Índia, sob a direcção de Sir John Marshall (Raghavan, 1984).
Após a invasão do Vale do Indo pelos Arianos, por volta de 2000-1500 a.C. (Breaux, 1991; Raghavan, 1984), que chacinaram o povo Drávida e escravizaram os poucos sobreviventes (De Rose, 1992), as técnicas do Yôga foram recodificadas por Pátañjali Maharaj, na obra Yôgasútra, que terá sido escrita nalgum momento entre o século III a.C. e o século V d.C. (R. Kupfer & P. Kupfer, 1995). Mediante esta codificação, o Yôga passou a integrar os darshanas, as escolas filosóficas ou pontos de vista do Hinduísmo (De Rose, 1996). Os darshanas têm como finalidade libertar o Homem da ignorância, explicando o sentido da existência do ser humano e do Cosmos. Podemos encontrar seis darshanas ortodoxos no Hinduísmo, que formam três pares complementares: Yôga e Sámkhya; Nyáya e Vaishêshika; Mímánsá e Vêdánta (R. Kupfer & P. Kupfer, 1995).
O Pátañjala Yôga (Yôga de Pátañjali), também denominado Rája Yôga (Yôga Real), Ashtánga Yôga, (Yôga das oito etapas ou partes), Yôga Darshana, Sêshwarasámkhya Yôga (Yôga do ponto de vista do Sámkhya com Senhor), Yôga Clássico, entre outros nomes, tem oito etapas que, de acordo com Pátãnjali (citado por De Rose, 1996), são as seguintes:
1) yama (abstinências; proscrições; refreamentos - normas éticas do Homem enquanto ser social): ahimsá (não agredir ou matar); satya (não mentir); astêya (não roubar); brahmacharya (não dissipar a sexualidade); aparigraha (não cobiçar);
2) niyama (observâncias; prescrições - normas éticas do Homem para consigo mesmo): shaucha (pureza, limpeza); santôsha (alegria, contentamento); tápas (auto-superação, austeridade); swádhyáya (auto-estudo); íshwara pranidhána ou átmanivêdan (auto-entrega);
3) ásana: posição psicofísica firme e agradável;
4) pránáyáma: expansão da bioenergia (prána) através de exercícios respiratórios;
5) pratyáhará: interiorização ou retracção dos sentidos físicos;
6) dháraná: concentração (centrar a consciência (chitta) numa área delimitada);
7) dhyána: contemplação ou intuição linear (manter a continuidade da atenção sobre aquela área específica da consciência). É o exercício a que se chama vulgarmente meditação, devido a uma tradução incorrecta, pois “meditar” em Yôga significa “parar de pensar”, ou seja, exactamente o oposto do que essa palavra traduz;
8) samádhi: estado de hiperconsciência ou consciência cósmica (quando chitta assume a natureza do objecto sobre o qual se concentra, esvaziando-se da sua própria natureza). Ao cessar o funcionamento da mente pensante (manas), do intelecto (buddhi) e do «eu» ou ego (ahamkára), ocorre uma identificação entre o observador, o objecto observado e o acto de observar.
Segundo Straube (n.d.), dentro do Swásthya Yôga (ou Shiva Yôga) existe uma prática denominada Shiva Natarája nyása (identificação com Shiva no seu aspecto de bailarino real), que se assemelha a uma dança, mas que na realidade constitui uma arte marcial secreta da qual nasceu o Kempo (nome japonês de Kung Fu), e posteriormente o Karate-Do.
Também em várias lendas se atribui a Shiva a criação do Vajramushti, a arte marcial dravídica que Bôdhidharma, o vigésimo oitavo patriarca do Budismo, teria levado para o mosteiro de Shaolin na China, no século VI d.C., dando origem ao Kung Fu (Natali, 1987). De facto, na tradição hindu, Shiva tem cem nomes (Zimmer, 1997), entre os quais: Yôgêndra, Yôgêshwara ou Mahayôgi, o Senhor do Yôga (Daniélou, 1979), mas também: Sômaskánda, o Deus da Guerra (Zimmer, 1997).
Para além disso, Silva (1993) refere que as mesmas etapas do Yôga de Pátañjali podem ser encontradas nas artes marciais. Por exemplo, os antigos bushis (guerreiros japoneses) atingiam dháraná (concentração) pela pressão exercida pelo perigo de morte iminente. A mente era literalmente obrigada a ficar atenta, pois qualquer dispersão podia ser fatal.
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