O Okinawa-Te (mãos de Okinawa) é uma arte marcial desenvolvida pelos habitantes da ilha de Okinawa, a partir de sistemas de combate chineses. Com a ocupação japonesa em 1470, passou a ser praticada secretamente. Após uma demonstração para o Comissário das escolas da Prefeitura de Kagoshima, realizada em 1902, foi autorizada no ano seguinte a sua integração no currículo da Educação Física Escolar.
Em 1906, Gichin Funakoshi (1868-1957) conduziu a primeira demonstração pública de Okinawa-Te, que baptizaria mais tarde com o nome Karate-Do (a via das mãos vazias). Em 1917, Funakoshi foi convidado pelo Ministro da Educação japonês a realizar uma demonstração em Kyoto, a que seguiram outras em anos seguintes, acabando por se estabelecer em Tokyo em 1922. Um ano após a sua morte desenrolaram-se os primeiros campeonatos do mundo de Karate-Do. Hoje, esta arte marcial é praticada em todo o mundo (Corcoran & Farkas, 1988). De acordo com Higaonna (1991), o Goju-Ryu é um dos quatro principais estilos de Karate-Do reconhecidos no Japão, a par do Shotokan, Wado-Ryu e Shito-Ryu.
Desde os primeiros tempos, e pela própria concepção filosófica oriental do combate, o treino de Karate-Do esteve dirigido a cultivar as características do guerreiro em sua mais elevada expressão, tanto a nível físico, como a nível espiritual. Assim, o praticante, dando grande destaque ao estudo e prática das virtudes da coragem, da humildade, do respeito e do autodomínio, entregava-se em corpo e alma a aperfeiçoar uma série de habilidades que não só poderiam salvar a sua vida num momento determinado, como também promoviam a descoberta e desenvolvimento de certas capacidades superiores inerentes à natureza humana (Establés, 1998).
O treino de Karate-Do, tal como legado pela tradição, consta de três unidades fundamentais de prática bem definidas, a saber: kihon, kata e kumite. A primeira parte, kihon ou fundamentos da arte, faz referência ao estudo e desenvolvimento das técnicas básicas, consideradas tanto individualmente, como em pequenas sequências de defesas e contra-ataques. Para o pensamento oriental, toda a actividade humana é regida por inalteráveis leis cósmicas, e em si mesma é uma manifestação do movimento infinito. Assim, cada técnica de Karate-Do encerra também toda a harmonia da Ordem do Universo, razão pela qual, com independência da sua aplicação prática ao combate, a profunda compreensão de qualquer movimento constitui um primeiro passo para o desenvolvimento de um nível superior de consciência. O kata ou forma, personifica a coluna vertebral do Karate-Do. A prática dos katas apareceu provavelmente como sistematização das técnicas marciais em sua aplicação mais directa ao combate real. Contudo, também encontram uma aplicação directa no fortalecimento e unificação do corpo e do espírito, constituindo verdadeiros sistemas de meditação dinâmica. Por último, o kumite ou combate, seria o tipo de treino que ajuda a potenciar a capacidade de aplicação precisa das técnicas no tempo e no espaço, através de um perigo imediato criado pela entrada em cena de um adversário real (Establés, 1998). No entanto, para além do kihon, kata e kumite, o Karate-Do inclui ainda no seu currículo: exercícios respiratórios semelhantes aos do Yôga (Williams, 1975) e mokuso (técnicas de meditação em posição sentada) (Maia, 1987).
No Japão, o Budo (a via do guerreiro) agrupa a totalidade das artes marciais. O Budo aprofundou de maneira directa as relações existentes entre a ética, a religião e a filosofia. Os textos antigos que lhe são consagrados dizem respeito essencialmente à cultura mental e à reflexão sobre a nossa natureza: quem sou eu? Portanto, o kanji “Bu” significa também parar a luta, pois o objectivo no Budo não é concorrer com os outros, mas sim encontrar sabedoria, paz e mestria de si. “Do” é a via, o método, o ensinamento para compreender perfeitamente a natureza do nosso próprio Eu, o não-ego (Deshimaru, 1983). Portanto, as artes marciais são essencialmente uma via espiritual (Durix, 1978). A sua relação com o desporto é muito recente (Deshimaru, 1983).
À primeira vista, a prática de artes marciais não parece ser uma forma de meditação. Kata, a prática de formas codificadas, mais parece uma dança, e os exercícios com um parceiro aparentam uma competição ou um encontro violento. O que parece torná-las uma actividade meditativa é a forma como a mente é usada na sua prática. Pensamentos alheios podem aparecer, mas são ignorados em favor de uma concentração contínua nas acções desenvolvidas. Nos exercícios com um parceiro, os lapsos mentais ou o afastamento da mente das necessidades de ataque e defesa, são desencorajados não só pela tentativa de seguir as instruções, mas pelo conhecimento, periodicamente reforçado, de que o ataque do oponente pode causar dor ou mesmo danos físicos (Kauz, 1992).
Ao longo da história da humanidade, certas pessoas declararam ter entrado num estado “superior” de consciência, ter tido um contacto directo com a “Verdade”, uma intuição muito forte e indescritível de uma dimensão diferente daquela vivida pelo comum dos mortais (Weil, 1976). Apesar desta vivência poder ocorrer sem causa aparente, de repente e em qualquer local (Wilber, 1991), há milhares de anos que foram elaborados métodos, nos cinco continentes, para se obter esse estado de consciência. Entre eles podemos assinalar: as diversas modalidades de Yôga; o Sufismo; os ritos iniciáticos egípcios, assírios e babilónicos, dos quais ainda encontramos alguns traços nas sociedades iniciáticas contemporâneas como a Teosofia, a Maçonaria e a Rosa-Cruz; a Cabala hebraica; a Alquimia; os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola; diferentes técnicas de meditação; o T’ai-Chi-Ch’uan (Weil, 1976, 1979) e outras artes marciais orientais (Maliszewski, 1996).
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